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Um projeto gráfico que critica o tabu mais consolidado na sociedade: a menstruação.

De acordo com a revista The Lancet, em seu artigo It’s time to talk about menstration (É hora de falar sobre menstruação), dados alarmantes da UNICEF dão conta de que um terço das meninas no sul da Ásia não sabem o que é a menstruação até sua menarca. Na Índia, 12% de meninas e mulheres têm acesso a produtos de menstruação. No curta documentário, ganhador de um Oscar, Period. End of Sentence (Ponto. Final de Frase), mostra a vergonha das mulheres ao dizer a palavra “menstruação”. Nas entrevistas com homens, um grupo dizia que “menstruação é uma doença que atinge quase todas as mulheres”.

Como é possível tanta desinformação sobre um assunto tão antigo quanto o ser humano? Precisamos falar sobre menstruação e quebrar esse
tabu, portanto este projeto.

Comecei coletando estereótipos relacionados à temática da menstruação, vindas de próprias experiências e de outras mulheres.  Escolhi  usar recursos digitais para produzir colagens, reunindo imagens de bancos de imagens gratuitos. Ao desenvolver o projeto, eventualmente passei a usar as cores vermelho e azul, relacionando o vermelho à menstruação e o azul ao líquido azul usado em comerciais de absorventes.

A primeira colagem produzida foi uma mulher surfando num O.B. sob um mar vermelho. A surfista é uma imagem de, Bethany Hamilton, o céu e a tangerina foram baixadas de um site de banco de imagens gratuito, Unsplash.

O ato de não olhar essa questão, por ser um tabu é continuamente mantido e é algo que precisa revisado. Quanto menos se fala, menos informação temos sobre o assunto. Nessa imagem eu quis representar justamente o olhar, com duas pessoas assistindo à destruição de uma bomba, tranquilamente com seu guarda-chuva, mergulhados no coletor.

O ciclo menstrual é um ciclo de fertilidade, de reprodução humana—o ciclo da vida. Portanto, podem haver frutos, caso essa for a escolha da mulher. A imagem nos mostra uma plantação de coletores menstruais, crescendo de seus ramos, prontos para serem colhidos e usados.

Envergonhada  de  precisar  trocar  o  absorvente, eu escondia ele nas mangas da camisa, (quando era longa), ou metia entre a minha calça e calcinha, cobrindo com a camiseta. Conheço muitas outras pessoas,  resignadas  com  o  silencio  constrangedor. Mas ao aceitar esse ciclo, ao abrir o diálogo sobre menstruação, a mulher se abre a um espírito de irmandade, pois todas temos algo em comum. E descobrir que não se está sozinha é libertador. Na imagem vêem—se mulheres flutuando de mãos dadas, livres, leves e juntas.

A Beleza fascista é uma construção
social de valores impostos às pessoas sistematicamente. São padrões de beleza exaltados nos meios de comunicação, que nossa percepção de beleza. Na composição imagética, ao colocar um símbolo de
beleza icônico, como a Marilyn Monroe sorridente usando vestido branco, como
nos comerciais de absorvente, banhada
em sangue menstrual, o resultado
é um paradoxo visual.

Não falar sobre menstruação é não falar sobre o próprio corpo, ou ter vergonha do processo natural dele. Não falar sobre menstruação é não olhar à educação sexual e vulnerabilizar  meninas e mulheres com a ignorância. Na imagem, há um  óvulo  feminino  pronto  para  ser  fecundado  pelos  espermatozóides, os OBs.

 Ao representar a irmandade e empoderamento feminino diante da menstruação, veio uma imagem de mulheres dançantes ao redor de uma gota de sangue, que se disfarça de lua. Remetente a um ritual de bruxaria, mulheres que foram perseguidas e assassinadas por ser elas mesmas. Mas ao juntar-se em grupo, a minoria vira massa, permitindo-as a dançar, mesmo diante os julgamentos.

Em línguas diferentes, temos modos de nos referir à menstruação sem diretamente falar a palavra. O nosso cotidiano é repleto por eufemismos como mar vermelho, visitante do mês, mãe natureza, aqueles dias. Nesse sentido, decidi representar um calendário que os números dos dias, somente absorventes que estão preenchidos com manchas vermelhas, indicando o ciclo menstrual e seu fluxo.

Ao considerar a figura de linguagem antítese, veio-me à mente um ensaio da Gloria Steinem, “Se homens menstruassem,”  que  contempla o machismo  sistemático, e como seria
um mundo em que os homens menstruassem. A colagem, feita baseada nessa crítica, mostra um anúncio de calcinhas absorventes para homens e “todos os tipos de fluxos”.

O órgão de reprodução feminino tem

sido representado como diversas frutas

nas redes sociais e mídia, seja o emoji

de pêssego à uma imagem de tangerina.

No caso da colagem, quis representar

a menstruação com duas tangerinas saltitantes, respingando água

(neste caso sangue) como visto

em comercial de comida.

Para passar a redundância do pleonasmo, quis representar uma imagem do cotidiano feminino, sem embelezar a menstruação. No entanto a imagem nos mostra um absorvente manchado de sangue, com uma frase escrita “Menstruação. Caso não tenha ficado claro”. Esta frase entrou na imagem, pois ao longo da criação das colagens, mostrei-as para os amigos. As mulheres entendiam logo de cara, e o homens precisavam de uma explicação. Portanto, sem eufemismos. Menstruação.

Esse projeto foi destacado na Revista Desvario.

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